sexta-feira, 25 de julho de 2008

Executivos bons de cama

Ok, o título foi de sacanagem. Pra te enganar. Quem lúcido acreditaria numa bobagem dessas? Depois do jornalista, ninguém é mais fodido sexualmente do que o executivo. Só que jornalistas trabalham “só” cinco horas por dia. E isso faz muita diferença. Dá tempo de aprender a jogar Playstation e não ser tão frustrado assim.

Executivos são por excelência a materialização do trabalho doente e devemos a eles todo o mal-estar de nosso tempo. Pois só há uma coisa pior que trabalhar: trabalhar demais, usando roupa demais. Por causa dessa turminha, agora todo mundo está impregnado com a pior das culpas e, para se livrar desse pecado, precisa ficar na empresa além do horário, o que já é muito tempo; absurdamente muito, levando em conta o que poderia ser uma vida plena: simplesmente ficar coçando o saco no sofá, assistindo à vida selvagem no Discovery, enquanto enchemos nossa pança com doces e sentimentos bondosos pelos animais da África. Tudo, enfim, para o que vale a pena ter uma mente, um bom sofá e, claro, um saco. Minha lembrança às mulheres.

Aliás, que a culpa pela decadência do mundo é do executivo (tudo bem, os religiosos contribuem com 45%) não é nenhum mistério para as pessoas esclarecidas. Mas não vivemos num mundo esclarecido. A vida na Terra demorou 4 bilhões de anos para construir um organismo tão complexo quanto o nosso e quando isso ocorre o nosso ideal de sucesso é ser um executivo? Roberto Justos é o melhor que a natureza pode fazer?

Já notaram como tem sempre um guru pilantra que adora antecipar as “tendências” futuras? Então, aqui vai uma tendência: um dia já fizemos um monte de bobagem em nome da igreja e de um Deus que adora nosso dinheiro. Em outros tempos matamos mais uma porção nas guerras em nome da nação. O ídolo atual é a corporação e o executivo e o Power Point são seus porta-vozes. A morte agora é mais sutil (alguém já participou de uma reunião até o fim sem se questionar metafisicamente por que há seres ao invés do nada? E ficar frustrado por não haver o nada?). Não conseguimos enforcar os padres (eles é que nos queimaram por séculos); nem pôr na masmorra os políticos e temo que com a cultura do executivo o ponto alto de nossa existência será mesmo o coffee break.

Só que não posso negar. Adoro o mundo corporativo. Só um ambiente assim para nos dar o melhor da piada pronta. O estresse, a estafa, os hinos e convenções motivacionais, aquele blábláblá enfadonho, o espírito de concorrência desleal entre companheiros, decotes concorrendo com barrigas enormes, enfim, tudo isso é o circo do alienado. E gostar de diversão é coisa de gente séria.

Mas tem mais. Entre as inúmeras inglórias de ser um executivo, eles ainda precisam conviver com o sexo, que seja na terceira pessoa. É claro que este é um texto para não executivos, para os que ainda têm chance, humor e dignidade. Porque os executivos mesmo não dão a mínima pro sexo. Pode até não parecer, mas no fundo executivos não comem ninguém. Simplesmente não dá tempo. Uma atividade anula a outra. E transar com a própria esposa uma vez no mês não conta porque não é sexo, é responsabilidade social. O fetiche pelas secretárias é coisa de peão. E confraternização em casas de strip é só mais um tipo de reunião.

Foi isso que perdeu o executivo: paz de espírito. Ah, mas o que é o sossego quando se tem uma Hilux 4x4 pra ir e voltar do trabalho? Como chegamos até isso? Como, dos valores simples da sobrevivência no passado, agora brigamos loucamente para crescer dentro de um esquema burocrático que em troca nos dá, nos dá... dá o quê? Ticket restaurante e curso de reciclagem? Assim como acontece na religião, o mundo corporativo é a ilusão moderna, é o ópio da mente especializada, é o novo consolo para o desespero, enfim, um mundo que se sustenta num razão tão frágil quanto a afirmação de que há um paraíso. O reino é aqui e o inferno também. Deve ser por isso que livros que relacionam monges e executivos vendem tanto. Cada um com a literatura que precisa para sobreviver.

Renato Cabral não é ninguém, não come ninguém e também não é amigo de ninguém numa grande corporação. Por isso está desempregado e ninguém o leva a sério.
www.oruminante.com.br oruminante@gmail.com

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Como se dar bem na alta roda


Modelos, astros e pessoas bem-sucedidas têm o estranho fascínio de nos causar aquele frisson (acredite, eu jamais usaria esta palavra conversando), aquela inveja sincera, aquele gostinho de “puxa, poderia ser eu, e se fosse... ah!”. Já reparou como eles parecem ser mais bonitos, mais fortes, com roupas mais bem passadas do que o resto de nós? É a magia da celebridade atuando sobre sua áurea carregada por contas a pagar. Mas, não se leve por essa primeira impressão apressada e artificial.

Do outro lado, já viu como pessoas pobres e com o destino selado pelo infortúnio e pela penúria são descobertas com facilidade em eventos sociais? Os sinais são tantos que uma lista inviabilizaria o texto. De qualquer forma, há meios de disfarçar e fazer pose. Sucesso, no fundo, não é gratuito; pode ser construído com dedicação, disciplina e muita cara de pau.
Falarei do básico. Nada de novo. Um monte de gente já faz isso há um tempão. E faz com tanta naturalidade que acaba acreditando no que faz. É essa a graça, não? Se você também não tem onde cair morto, melhor que descobrir quem é um miserável em uma festa, por que não tentar se dar bem na alta roda sabendo como ela funciona? Vamos lá.

Que sorriso é esse? Gente famosa não ri. Gente famosa não abre a boca para mostrar os dentes. Esse povo é esnobe e ingrato. Mas se for pra rir, dê uma gargalhada bem alta pondo a cabeça pra trás para demonstrar o quanto você é poderoso e metido a besta. Aquele tipo de gente que tem nactarinas na geladeira e sabonete de glicerina no banheiro. Clichês como este são a prova máxima de que para ser famoso basta ser idiota.

E tem o olhar. Olhar é tudo, rapaz. Vai ficar olhando para todo mundo para ver se estão te notando? Nunca encare ninguém. Faça o olhar dispersivo do fodão sem preocupação e sem destino, que já conquistou tudo e que nem com sua ereção se preocupa mais. Force aquele ar enfadonho e sem brilho de quem acha o mundo um porre. Quando uma mulher estiver conversando com você, prefira flertar com o copo de uísque. Não dê bola. É golpe, você sabe. É mulher pobre. É mulher que só quer o seu suposto dinheiro. Não dê a ela. Vingue-se! Até porque mulher poderosa não conversa com homem, pra isso existem os motoristas e os seguranças.

Toque. Quem gosta de ficar encostando, dando tapinha nas costas, é puxa-saco e todo puxa-saco é pobre e sem influência. Por favor, nada de ficar relando, dançando encostado, conversar pegando no braço, nem passar a mão ensebada no cabelo de ninguém. Isso só mostra que você vem de bairros sem saneamento básico e que para conseguir as coisas precisa ser na força, ao invés de ser pelo cartão de crédito.

Ainda sobre a dança. Você dança demais. Que passinho é esse? Está deixando claro que é um assíduo freqüentador de pagodes e adjacências. Nada de ir para a pista, ficar suado. Mas se for exigido, não levante os braços nem agache para dançar. Isso, além de brega, é coisa de metrossexual ou de mulher tonta. Ah, e se afaste de meninas que façam movimento de dança do ventre. Não há nada mais horroroso do que isso.

Comida. Se afaste das bandejas! Nada de pôr petiscos no bolso pra levar para sua irmã gorda. Os canapés estão ali propositalmente para te envergonhar e mostrar o quanto você é só mesmo um esfomeado que se rende fácil ao poder de seu estômago. Sim, eu sei que você está faminto. Mas lembre-se: comida numa festa não é de comer é só um pretexto para a existência de garçons, para que todos se sintam bem com suas roupas caras e as mulheres gordas e ricas possam ter um pouco de prazer no fim da noite.

Sexo. Você conseguiu uma garota da alta roda. Cuidado. Na hora da conversa, não tente ser espirituoso. Isso é coisa de humorista e todo mundo sabe que humorista, depois de jornalista, é o sujeito mais fodido de todos. Apenas balbucie frases desconexas e sons onomatopaicos. Gente rica não precisa agradar. O importante mesmo são os gestos, o movimento das sobrancelhas e a rotação do pulso na hora de tomar o seu drinque. O ritual construiu toda a nossa mentirosa civilização. Não despreze isso.

Vexame. Caso role algo mais com uma coroa abastada, nada de ir metendo a mão nos peitos da mulher no meio de todo mundo e pedindo pra ela pegar “só um pouquinho”. Tenha postura e lembre-se de que gente rica não trepa. O sexo pra eles há muito se tornou um empecilho trabalhoso e foi substituído por atividades mais exóticas como voluntariado, mosaico, tênis ou chá.

Glória e redenção. Você se saiu bem até aqui. Agora, o mais importante: na hora de se dirigir ao orelhão para chamar o moto-táxi, pelo amor de Deus, tenha a certeza de que ninguém está de olho. De preferência, entre num terreno baldio e espere a confusão se dissipar. Se estiver amanhecendo, melhor ainda; assim, você economiza os R$ 6,50 do moto-táxi e vai de ônibus. Que você é um derrotado todo mundo sabe, mas não precisa ser burro. Dois defeitos já são demais.


Renato Cabral é Renato Cabral, ora, vocês já deveriam saber, não?

oruminante@gmail.com